Por vezes chamados de loucos. Sob outro ponto de vista, verdadeiros gênios.
Ou, talvez, apenas mais felizes.
Negro, louco, pobre: criatividade inabalável

Mas Bispo, acima de tudo, não gostava de aceitar o que lhe era imposto. Recusava-se a receber tratamento médico e passou a buscar inspiração em seu próprio cotidiano. Da loucura, retirou subsídio para a arte.
Entre a realidade e o delírio, os signos manicomiais ganhavam novo sentido e valor estético na sua ousada desconstrução. Objetos “inúteis” ganharam vida nas mãos do Bispo do Rosário. Foi dentro do manicômio que ele produziu todo o seu trabalho, que mais tarde seria classificado como arte vanguardista e comparado à obra de Marcel Duchamp, ganhando projeção mundial. Criou um universo lúdico, em que o lixo e a sucata eram transformados em navios, estandartes, objetos domésticos. A peça mais famosa: o Manto da Apresentação, que ele deveria vestir no dia do Juízo Final. Para tecer este manto, o Bispo, cuidadosamente, retirava os fios azuis de seu próprio uniforme. Desfazendo a veste, aproveitava fio por fio.
O discurso de Bispo do Rosário apoiava-se, principalmente, na escrita. Para ele, a palavra tinha status extraordinário. Nomes, trechos poéticos e mensagens bordadas. Em 1997, Ronaldo Fraga conquistou o prêmio de estilista revelação com a coleção “Em nome do Bispo”, inspirada no trabalho do artista.
Ricardo Aquino, curador do museu Bispo do Rosário, resume a genialidade do processo de criação de Bispo do Rosário: “A arte não serviu como tratamento. Serviu para a descoberta de outro caminho.”
Gentil profeta

O acidente aconteceu na década de 1960, poucos dias antes do Natal. Foram mais de 500 mortes, principalmente de crianças. Datrino disse ter ouvido “vozes astrais” que o mandavam abandonar as coisas materiais. Ele pegou, então, um de seus caminhões e foi para o local do incêndio. Lá, plantou um jardim e uma horta e fez sua morada durante quatro anos. Tornou-se um consolador voluntário, confortando familiares das vítimas da tragédia. Daquele dia em diante, passou a se chamar "José Agradecido", ou simplesmente "Profeta Gentileza".
O artista deixou suas marcas na cidade do Rio de Janeiro: à paisagem cinza, emprestou a cor. Aos distraídos, ofereceu mensagens preciosas. Foi assim que ele começou a produzir seus murais, com dizeres pertencentes a uma lógica gramatical própria. Muitos não entendem a escrita singular: “amor” com um R era amor material, “Amorrr” faz referência à trindade: um R do Pai, um do filho e outro do Espírito Santo.
Os painéis pintados por Gentileza podem ser considerados uma das maiores intervenções urbanas. Trata-se de um verdadeiro livro urbano: 56 pilastras do Viaduto do Caju, próximo à Rodoviária do Rio de Janeiro, servem como página. Durante algum tempo, porém, elas foram cobertas por tinta cinza, a mando de autoridades. Mas protestos de toda a parte pediram as cores de Gentileza de volta. (Veja o clipe de Marisa Monte aqui!)
Um cavaleiro andante, vestido com um “manto bordado”, a conduzir seu estandarte e seu discurso. Também foi internado, tido como louco. Morreu em 1996, mas sua arte transcende. Hoje, não são poucos os artigos que carregam a mensagem Gentileza Gera Gentileza. Camisas, bolsas, adesivos. Espalhar boas mensagens é sempre uma boa ideia, não é?
Cê tá pensando que eu sou loki, bicho?

Mas a trajetória – sempre ascendente e conturbada – teve um desvio de rota. A banda e o casamento acabaram. Arnaldo investiu em alguns outros projetos, como o álbum Loki, de 1974 (incrível!), mas pouco a pouco os problemas aumentavam. Drogas e álcool deixaram marcas profundas. Internações psiquiátricas frequentes e o acidente em 1982 trouxeram sequelas graves: após cair do quarto andar de um hospital em São Paulo, ele ficou em coma por meses. Foi Lucinha – antiga fã - quem o resgatou. Resgatou através da atenção, do companheirismo, da pintura.
O documentário Loki (2009), de Paulo Henrique Fontenelle, deu grande projeção à história do artista e também ao seu trabalho com a pintura. A obra traz a trajetória de vida de Arnaldo, abordando a época dos Mutantes, os problemas com drogas, os outros projetos musicais, o encontro com a pintura. Após o sucesso do filme, novos projetos: o álbum Esphera (escute "I don't care") e inúmeros convites para shows e exposições.
- Depois que as pessoas viram no filme que o Arnaldo pintava, começaram a pedir quadros para comprar, fazer exposições. É o que você vê: ele pinta o dia todo, tem quadro até no banheiro. Agora está numa fase de colagens. Não tenho mais um garfo na cozinha!
Novos projetos estão pelo ar e Arnaldo está feliz. Diante de uma nova realidade, ele conseguiu encontrar outros caminhos para a criatividade.
E a arte não serve exatamente para isso?
Deslocar sentidos, fazer pensar, deixar o preconceito e enxergar o mundo sob uma nova ótica. E esses nossos personagens de hoje cumpriram com maestria essa função. Loucura? Arte. Inspiração para todos nós!
Adoreiiii!!!
ResponderExcluirAdorei, Alice!
ResponderExcluirSimplesmente apaixonante...
Eles são sempre inspiração, né? =)
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