quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Desenho e ilustração: trazendo a ideia para o mundo real


Verdadeiras obras primas, que depois se transformarão em sonhos de consumo!

Antes de uma roupa ficar pronta, lá na prateleira da loja, a gente sabe que o percurso é longo. Primeiro vem a ideia, depois é hora de passar para o papel. Simples? Nem um pouco. Além de ser necessário ter talento para o desenho, é fundamental ter noções de modelagem. As ideias podem ser incríveis, mas sem o domínio das técnicas, nenhum modelista será capaz de traduzir a imagem para o produto em si.

O fato é que essas ilustrações e desenhos de moda acabam muitas vezes se tornando verdadeiras obras de arte! Lendo o artigo escrito pela professora do SENAC, Carla Stephania de Góis Duarte, intitulado A Ilustração de moda e o Desenho de moda, tivemos ideias bem legais a respeito do tema e vamos dividir o conhecimento aqui com vocês! O principal objetivo da pesquisadora foi discutir e diferenciar as duas ramificações do desenho no universo da moda: a ilustração de moda e o desenho de moda.

Ilustração: do registro à subjetividade exponenciada
Podemos, inicialmente, destacar a importância da ilustração como registro da memória, ao retratar os trajes típicos de épocas passadas. Principalmente quando não havia a fotografia, essas ilustrações captavam detalhes da indumentária que nos ajudam a entender o comportamento e as preferências de civilizações antigas. Na época das grandes navegações, os viajantes retratavam tudo isso e enviavam a seus países de origem.

As ilustrações, fonte de pesquisa histórica
A invenção da imprensa, no século XVI, foi um ponto muito importante, pois proporcionou o surgimento dos primeiros livros de costumes impressos e também porque tornou-se muito mais simples o intercâmbio entre regiões: os livros foram barateados, possibilitando um acesso mais fácil.

O artista responsável pela ilustração deveria também descrever os trajes. Apresentando as diversas maneiras de uso e explicitando suas diferenças, exerciam mesmo uma função didática, explicativa. Foi no século XVII, com o desenvolvimento de um “jornalismo de moda” ainda incipiente e dos almanaques que esse didatismo dos impressos tornou-se ainda mais forte.

No século seguinte já aparecem, nas revistas, ilustrações de moda coloridas. Exemplo que podemos citar é a Le cabinet des modes ou Les modes nouvelles, revista francesa com uma tiragem quinzenal, que continha catálogos de moda coloridos à mão. Além de roupas, tudo mais que compunha o visual: acessórios, perucas, chapéus, jóias e também artigos de decoração para a casa. 

As ilustrações da Le cabinet des modes

Com a invenção da fotografia, no século XIX as ilustrações passam a ter menos valor. A fotografia tornou-se a ferramenta capaz de captar todos os detalhes com exatidão, através de menos esforço. É aí que percebemos um ponto importante: a ilustração toma para si uma função muito mais artística. Permite a ampliação dos significados subjetivos, deixando transparecer a própria personalidade de seu criador. Assim, encontramos esse tipo de técnica muitas vezes em editoriais e representações mais soltas e artísticas de moda.

Desenho de moda: o caminho entre a imaginação e a materialização do produto
Sabe quem pode ser considerada a primeira desenhista de moda? Ninguém menos do que Rose Bertin, famosa por  vestir a Rainha Maria Antonieta, durante o período de auge do Rococó. Enquanto o ilustrador de moda desenhava as roupas que já existiam e as mostrava em livros de costumes, o desenhista de moda desenvolvia criações e vestia seus clientes.

Além de vestir Maria Antonieta, Mme. Bertin fazia miniaturas de suas criações para vestir bonecas. Ação de marketing, pessoal! Com as bonecas, cada detalhe dos figurinos era representado fielmente, e elas se tornavam objetos de divulgação, que poderiam ser levados para longe, difundindo a moda francesa por toda a Europa. (É muito raro encontrar registros dessas bonecas, que acabaram perdendo-se entre tantas viagens).

As criações de Mme. Bertin

Outro grande expoente desse processo foi Charles Frederick Worth. Já falamos sobre ele no post sobre avisita à Casa da Hera, que possui em seu acervo peças desse famoso criador. Worth mostrava em aquarela os croquis de seus modelos para as clientes, confeccionava a roupa e em seguida vestia o modelo, apresentado anteriormente por meio de desenho, em manequins que se apresentam ao vivo. Paul Poiret também teve grande destaque no segmento, ao propor o novo desenho da silhueta feminina no início do século XX, livre da opressão dos espartilhos.

As criações de Frederick Worth... 

... e de Paul Poiret

O desenho de moda foi, ao longo do século XX e até hoje, se desenvolvendo e tendo como intenção primordial a execução daquele trabalho. Elaborados pelos estilistas, trazem detalhes e informações fundamentais para esclarecer volumes, materiais, corte.  E esse caráter se aprofunda ainda mais quando falamos da ficha técnica, que deve trazer todos os detalhes, desde o material a ser usado até as particularidades de caimento e corte.

Estilistas artistas ou artistas estilistas?
Dentre desse universo, o que podemos destacar é que muitos estilistas já envolvidos com o mercado, que lançam coleções periodicamente, mantém o hábito de desenhos não tão exatos. É questão de estilo. A equipe deve estar afiada para interpretar ali a ideia do criador, e tornar real a obra prima imaginada. Dá só uma olhada:



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