segunda-feira, 12 de março de 2012

Matizes Dumont: bordado encantado

“A história destes ilustradores também é uma história de encantamento, 
cujo começo é a linha sinuosa de um rio, o mágico Rio São Francisco.”

É na varanda de uma casa tranquila em Pirapora, MG, às margens do Rio São Francisco, que começa o fio da meada. Vendo a água correr, percebendo a sutil e abrupta variação de cores do cerrado, elas encontram a inspiração espontânea. Cenas rurais, com violas, fogueira, brincadeiras de criança, representadas com destreza e perfeito domínio da técnica do sombreado, encantam gente do mundo todo.

Falo do trabalho de MatizesDumont, uma grande família de bordadeiras. Dona Antônia e senhor Demóstenes, os pais, contadores de casos e profundos apreciadores das narrativas, cultivaram nos filhos o gosto pela invenção de histórias e observação da natureza. Assim, Sávia, Marilu, Ângela, Marta e Demóstenes tornaram-se os fundadores do Matizes Dumont.



Fazendo parte da programação do mês da mulher, a Funalfa trouxe Sávia e Marilu para ministrarem um curso de bordado, que foi realizado durante toda a semana, e uma palestra, que aconteceu no último dia 08. Na palestra, elas contaram um pouco sobre as ideias e dificuldades dessa “vida de bordadeira”, comparada à subida das piabas pelo Rio São Francisco: constante superação de obstáculos.

O grupo Matizes Dumont é fruto de um trabalho transgeracional: hoje até mesmo a bisneta de Dona Antônia já dá os primeiros pontos de bordado. Cada criação é feita em um esquema de rodízio, fazendo com que cada uma borde o que mais gosta. Uma prefere enfeitar os céus, a outra tem paixão por representar a água. Assim, ponto a ponto, uma história vai sendo traçada.

A contação de histórias
Filhas de pais bordadeiros e contadores de casos, o resultado não poderia ser diferente: a grande inovação do trabalho deste grupo surgiu com as ilustrações para famosos livros e capas de cd. Maria Betânia, Thiago de Mello, Portinari, Rubem Alves, Jorge Amado e Marina Colasanti já tiveram suas palavras e cantos ilustrados pelas mãos da família. Verdadeiras obras primas. Maria Betânia chega a ressaltar a beleza que há na junção da força e da delicadeza deste trabalho e ainda completa: “Eu tenho um orgulho danado de ser do mesmo país que eles!” 



Vale lembrar que Ronaldo Fraga também teve contato com eles! A exposição Rio São Francisco Navegado por Ronaldo Fraga: Cultura Popular, Moda e História” trouxe muito do grupo Dumont para o Brasil conhecer! 


Artesanato como agente de transformação social
O Instituto de Promoção Cultural Antonia Diniz Dumont, criado pela família, surgiu como um local em que pudessem reunir suas obras e preservar a memória de todo o trabalho. Mas acabou transformando-se em catalisador de mudanças sociais na região. Baseado nos pilares “educação, saúde, cultura e preservação ambiental”, o Instituto atende 185 mulheres que aprendem ali um ofício. Através do aprendizado do bordado, trabalham a alma e geram renda. Juntas, dizem formar a “tropa de elite da agulha”!

O grupo já viajou por todo o Brasil e até para o exterior, levando suas técnicas e beleza. Em Juiz de Fora, 30 pessoas participaram do curso. Entre elas, estavam quatro meninas, integrantes do projeto Casa da Menina Artesã, da AMAC. Mariana Carolina, de 17 anos, diz ter gostado muito: “foi um bom momento para aprender novas técnicas. O próximo passo é ensinar mais pessoas!” E o legado do Matizes Dumont é justamente esse: que cada um passe adiante um pouco do que aprendeu. Simples e fundamental para a preservação dessa verdadeira arte que é o artesanato!

As Meninas Artesãs, compartilhando o aprendizado ponto a ponto
E vale a pena ver o documentário "Transbordando", que conta um pouco mais a história do grupo! 


Transbordando from Etnodoc on Vimeo.


3 comentários:

  1. quanto bordado lindo e quanto talento ;)
    ótima história pra compartilhar!

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  2. Essa família realmente tem um trabalho encantador! Viver o bordado com elas é uma experiência inesquecível... Parabéns e beijos!

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  3. Inexplicável o dom dessa família de encantar as pessoas, só mesmo quem já compartilhou com elas horas e horas bordando e saboreando das suas experiências, para entender.Parabéns meninas Dumont e Dona Antônia pela bela arte e família.
    Sonia

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